sexta-feira, 25 de junho de 2010

Quem Espera sempre alcança, le. O Homem Nu vem vindo.

Como sabemos e percebemos que quase todas as pessoas interessadas em Antropologia, Sociologia e várias outras "gias" das Ciências Humanas, são fascinadas por leitura, quero compartilhar uma noticia que obtive via internet e que tenho certeza que todos irão gostar, principalmente os amantes das obras de Claude Lévi-Strauss.

Último volume de "Mitológicas" de Lévi-Strauss será lançado em 2010; leia trecho

da Livraria da Folha
A série "Mitológicas", do francês Claude Lévi-Strauss, é um marco da antropologia. Dividida em "O Cru e o Cozido", "Do Mel às Cinzas", "A Origem dos Modos à Mesa" e "O Homem Nu", analisa 813 mitos de diferentes povos indígenas do continente americano e reúne estudos sobre culinária. A obra é leitura obrigatória para qualquer interessado em conhecer a mitologia, as lendas e a rica cultura dos ameríndios.
Com lançamento pela editora Cosac Naify previsto para 2010, o quarto volume da série analisa os mitos dos Salish, localizados na América do Norte, entre os rios Klamath e Frases, nos Estados Unidos. Leia a seguir um trecho da quinta parte de "O Homem Nu":
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"[...] Dentre todas as técnicas culinárias, o forno de terra se apresenta como a que manifesta de modo mais pleno uma homologia formal e íntima entre a infra-estrutura e a ideologia. Dados a complexidade em geral grande se sua fabricação, seu freqüente caráter de empreitada coletiva, o conhecimento tradicional e os cuidados exigidos para seu bom funcionamento, a lentidão do processo de cozimento que pode durar vários dias, e marcado até o último momento pela incerteza quanto ao resultado, agravada pelo fato de quantidades enormes de alimento - correspondendo às provisões de uma ou várias famílias e sua única esperança de poder sobreviver até o final do inverno - lhe serem entregues, sobre e até dentro da terra, o forno atesta a presença e a potência do fogo. A cada vez que é acendido, ele comemora majestosamente o conflito inicial, imagem antecipada de todos os que viriam a seguir, e cujo resultado foi a conquista do fogo. É uma técnica que permanece, pois, intimamente ligada a uma mitologia heróica, ainda perceptível para aqueles que, numa praia da Nova Inglaterra, tiveram a experiência da atmosfera alegre e marcada por um fervor ritual de um clambake. Por seu caráter heróico, essa mitologia muitas vezes se opõe, até atingir a incompatibilidade - no caso dos Jê, dos Sahaptin e dos Salish pelo menos, ao emprego de recipientes de cerâmica para cozer por fervura, símbolos do que poderíamos chamar de culinária fecunda, mas caseira. Essa oposição evoca outras, como aquela percebida por Dumézil entre a morte heróica, seguida de cremação do cadáver, e a morte fecunda por afogamento ou seguida de enterro.
 E assim, ao mesmo tempo em que entrevemos um sistema de categorias que se presta a múltiplas transformações e que, em sua essência, poderia ser universal (pois que certamente fazem dele parte também provas de iniciação ou de passagem com descarnamento simbólico por meio de escarificação, flagelação, picadas de insetos venenosos ou cozimento, compreendemos que o humilde relato de uma briga de família que nos serviu de ponto de partida o contém por inteiro em germe, e que o gesto para nós tornado insignificante de inflamar um combustível aproximando dele um fósforo perpetua, no seio de nossa civilização mecânica, uma experiência que, para toda a humanidade outrora e para seus últimos testemunhos ainda hoje, foi ou permanece investida de uma gravidade máxima. Pois nesse gesto são simbolicamente arbitradas as oposições mais carregadas de sentido que é dado ao homem inicialmente conceber, entre céu e terra na ordem física, entre homem e mulher na ordem natural, entre afins na ordem social. [...]"

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