domingo, 9 de maio de 2010

O Sertão virou Carvão (Álvaro Braga)



Conversando com meu Amigo Álvaro Braga, ele me falou sobre um artigo que havia escrito algum tempo atrás, de cara pedi a ele permissão para colocar tal artigo na internet e comentá-lo de forma rápida e resumida, levando em consideração a temática indígena e suas prerrogativas em relação a conservação ambiental que há nas TI indigenas do Maranhão, como também reinterar uma denuncia à FUNAI sobre as TIs Tetehara as quais estão sendo alvo de tráfico de madeira, em algumas áreas comandada por individuos que se dizem representantes dos índios Tetehara, na verdade são apenas PSEUDOs-Chefes. Pedimos, como Sociedade Civil Organizada que a FUNAI abra os olhos para isso, mesmo, sendo de nosso inteiro conhecimento que tais ações de fiscalização, nesse momento, serão dificeis de serem executadas por causa da reestruturação a qual está sendo executada na FUNAI, a mesma de forma organizada, seria e respeitando os costumes e cultura dos povos indígenas tanto do Maranhão, como também do Brasil.

O Sertão virou carvão (Álvaro Braga)

Achou o título deste artigo chocante? O sertanejo, que nasceu e se criou naquela região também. Vamos falar um português claro e objetivo: Está tudo sendo desmatado para se fazer carvão com o objetivo de abastecer as usinas siderúrgicas de Açailândia e indústrias de Imperatriz.
E o pior: trata-se de um desmatamento autorizado por lei. Legal e ao mesmo tempo imoral. Preserva-se uma certa quantidade de hectares das propriedades e o restante pode ser derrubado, queimado, destruído.
A lei que regulamenta a questão agrária previu isso, numa tentativa de prender o homem ao campo e conter o êxodo rural. Mas no Sertão o que se verifica é um desvirtuamento da lei, e isso tem que ser observado e a legislação discutida urgentemente.
Grandes grupos econômicos compraram e estão comprando e arrendando, para exploração madeireira extensas áreas de terra, muitas vezes, por uma ninharia. Isso sem falar na questão fundiária e na grilagem de terras que é um outro problema sério.
No Brejo do Meio, a família Sena foi despejada, como se fossem bandidos, sem direito a colher suas roças de arroz, feijão, milho, mandioca, abóbora e melancia. Detalhe: o patriarca da família nasceu lá, na dita terra, em 1932. Não faltaram políticos que prometessem, em anos passados, regularizarem as suas terras e dar-lhes a posse definitiva. Ledo engano.
O mesmo embuste para as promessas de campanhas políticas que prometem para os humildes sertanejos de boa fé, a cada eleição, o asfaltamento da estrada ligando Barra do Corda a Fernando Falcão e a ponte de concreto na divisa com o Mirador. Tudo isso iria integrar, desenvolver e beneficiar toda a região.
O que se vê no Sertão, são empresas terceirizadas que penetram no coração das matas, com um projeto muito bem definido no papel, onde ficam delineadas as espécies vegetais que podem e que não podem ser tocadas, com o devido replantio de eucaliptos, nos locais em que a mata foi tombada, mas o que ocorre, não é bem assim.
Como não há fiscalização suficiente para a imensa extensão do território, acontecem as anormalidades ambientais que está estarrecendo os sertanejos e os ambientalistas.
O IBAMA local está com suas atribuições reduzidas e ainda não fechou seu escritório em Barra do Corda, é bom que se diga, graças à intervenção de abnegados barra-cordenses, incluindo o ambientalista Ênio Pacheco, que no ano passado, em Brasília, solicitaram e conseguiram, de membros da bancada maranhense, na Câmara dos Deputados, a manutenção do Órgão em nossa cidade.
Sem a devida fiscalização, em certos locais a derrubada corre solta, e árvores nativas, nobres, entram no embalo da degradação. Isso sem falar nas bromeliáceas, nas xerófilas e nas frutíferas regionais como pequizeiros, bacurizeiros, “pés de bruto”, tucuns-rasteiros, guabirobeiras, ameixeiras silvestres, jenipapeiros, jatobazeiros, pitombeiras entre outras.


Procurei conversar com um paranaense que trabalha em uma das empresas desmatantes. Perguntei se havia critério na derrubada das árvores e ele me respondeu penalizado: - “Vai tudo! Às vezes a gente livra um pequizeiro ou outra árvore protegida, mas no geral vai tudo.
Mas a empresa é idônea e faz o replantio do eucalipto direitinho.” Escutei petrificado este relato. Além da revolta, fiquei a pensar onde irão encontrar tanto “urso panda” para comer estas milhares de folhas dos pés de eucalipto!
A zona situada entre os povoado Mucura e Cabeceira do Escondido é uma das áreas mais atingidas. Moradores nos dão testemunho que ficou insuportável morar próximo às áreas devastadas, tanto pelo calor abrasador que se faz no momento, pela fumaça dos fornos carvoeiros a céu aberto e pela tristeza de ver tanta destruição em um lugar que para eles, era o paraíso. Planejam se mudar para Barra do Corda.
Um amigo, que veio de Passagem Franca para Barra do Corda pegando carona no avião dos Correios me contou que lá de cima só se vê plantação de eucaliptos, onde antes era mata nativa sertaneja! Quilômetros e quilômetros de devastação da natureza. A região desmatada de Alto Brasil, Lagoa da União, e Sibéria parece que caiu um meteoro. No Arranca em Barra do Corda, um trabalhador me segredou que foram devastados mais de 30 km de mata nativa entre o rio Corda e o Mearim! E haja Eucaliptos! Que também já estão sendo cortados.
Pergunto cá comigo: e o ecossistema meu Deus do céu? Como vai ficar? Para onde migrarão as abelhas, os marimbondos, as borboletas, os coleópteros, os pássaros, os cervídeos, os marsupiais de pequeno porte, os bicho-preguiça, as onças, gatos maracajás, as raposas, os camaleões, os tatus, os pebas, os jabutis. Já ouvimos relatos de que cobras estão invadindo as áreas residenciais dos povoados Muquém, Caititú, Galheiro, Leandro e Buriti, em busca de alimento. Fora de seus habitat, os animais são também presas fáceis de caçadores inescrupulosos.
Com o desequilíbrio ecológico e ambiental, chegam as enchentes, os desabamentos das chapadas e encostas, erosões, assoreamento dos rios, aterramento de nascentes. Os mais atingidos serão os riachos Ribeirão, Escalvado, Soturno, Escondido, Buriti, Bacuri, Ourives e brejos situados do Brejo dos Cazuzas, Brejo do Meio, Bacuri dos Targinos, Bacuri dos Tomás, o antigo Jenipapo dos Resplandes (este brejo quase destruído pelas plantações de capim para fins agropecuários, ao seu redor). Tudo isso tem a sua importância no ciclo natural e na bacia hidrográfica da região, que está toda interligada, e pode comprometer os olhos-d’água e produzir a morte dos nossos rios Alpercatas, Flores, Corda e Mearim em pouco tempo, caso providências urgentes não sejam tomadas para coibir este verdadeiro descalabro e crime contra a natureza.
Este não é um cenário do apocalipse. Trata-se de uma realidade dura e cruel, que atingirá a todos nós em pouco tempo. A natureza costuma se revoltar e dar o troco quando o homem intervém no curso natural das coisas, como já acontece em regiões maranhenses outrora férteis e abundantes em chuvas e que hoje necessitam de nucleação artificial para estimularem as nuvens.

Vamos esperar impassíveis as catástrofes atmosféricas, calor excessivo, as pragas de lagartas, formigas, morcegos, potós, lacerdinhas e gafanhotos, sem tomarmos atitudes cidadãs, cobrando a quem se deve cobrar?
Barra do Corda vive o ano mais quente da sua história, com temperaturas oscilando entre 30° a 42° ( graus centígrados ) e daqui para frente vamos ter que nos acostumar a vivenciar e enfrentar a nova realidade em que se transformou os nossos sertões, outrora tão deslumbrantes e poéticos, notadamente a região que engloba Barra do Corda, Fernando Falcão, Tuntum, Itaipava do Grajaú, Grajaú, Formosa da Serra Negra e Mirador.
Como dizia Antônio Conselheiro em visão profética: “Um dia, o mar vai virar sertão e o sertão vai virar mar.”
Vai mesmo. Vai virar um mar de lama.

Álvaro Braga

Nenhum comentário: