quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Cultura, Culturas, perdas e transformações entre os povos indígenas


Em uma conversa, durante o intervalo de uma reunião, onde a mesma era composta pelos mais variados indivíduos, entre os quais religiosos, agnósticos, católicos, evangélicos e ateus, os mesmos com variadas opiniões e conceitos culturais, surgiu à seguinte colocação: seria viável a tentativa de modificação, mudanças das letras das músicas usadas nas apresentações de capoeira no município de Grajaú?

A justificativa de mudança de tais habitus (levemos em consideração aqui o conceito de Bourdieu), foi colocada de forma que o Sagrado e o Profano estivessem em oposto e sobreposição entre o bem e o mal, algo sublime, como a luta entre Deus e o Diabo.

Às vezes esquecemos que a religião toma uma forma de emaranhado, perpassando limites e subjugando a Cultura (Roque, 2000), formando culturas das mais variadas possíveis, como ocorre no sincretismo existente no Brasil, catalisador das diferentes etnias e raças existentes em nosso país.

O Brasil tem mais de 400 anos do que chamaremos aqui de caldo cultural, os mesmos nasceram de resistências das mais variadas possíveis; desde luta armada até as diferentes formas de fuga, culinária e idiomas que tomaram rumos igualmente diferentes e ajudaram a transformar nosso país em uma Nação sem Estado e Estado sem Nação (Desculpem por não me lembrar de quem é essa definição).

Logo, durante a discussão, percebi que os interlocutores não estavam se atentando para algo primordial na estrutura da discussão: o respeito ao outro e suas diferenças e especificidades. Se estivéssemos em países como EUA e mesmo França ou Inglaterra, a violação desse direito seria atacada de forma franca e forte, como um contra preconceito ou mesmo um racismo as aversas.

Tocqueville (1851), em seus estudos e viagens aos Estados Unidos da America, verificou movimentos sociais diversificados os quais contam a gêneses de tais direitos, como os mesmos nasceram e foram introjetados nas mentes norte-americanas, marcando juntamente com esses conceitos, definições de inviolabilidade do direito a individualidade, corpo e residência.

Em nosso país tais direitos são o que chamaríamos de mais abrangentes e a questão da inviolabilidade dos direitos e deveres individuais e coletivos, tratado em nosso Art. 05, deixa a perceber que ao mesmo tempo e momento que temos direitos assegurados, podemos expor nossas sensações às vezes até sem respeitar ao outro, esquecendo o inciso II, onde fala ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei ; ou mesmo o inciso IV onde também réplica nossas questão colocando o seguinte é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato ;

Lendo todas essas questões nos colocamos a pensar e mesmo a ter a certeza de que, sem saber, somos influenciado intimamente e majestosamente por leis que estão sendo enraizadas em nossos imaginários, vidas, costumes e cultura.

Nossa cultura de costumes, e de manifestações são algo determinante no momento de formamos o que somos, e aqui nos referimos a negros, índios, ‘brancos’, tomemos emprestado Darcy Ribeiro em seu livro e o Povo Brasileiro, e como tais conceitos são importantes para formação de nossa identidade e nossa cultura mista e misturada.

Mesmo em seu vídeo sobre determinado assunto (o qual tem o mesmo nome – O Povo Brasileiro), Ribeiro mitifica e desmitifica temas e tabus anteriormente assistidos por nossa nação de forma apática, e que somente depois da popularização das informações houve o que mais temíamos, o sucateamento desses conceitos e com esses sucateamentos, alguns agentes saíram prejudicados, com o aumento e transformações de preconceitos e prenoções há séculos enraizados, nesse caso uma das vitimas foi o conceito de cultura frente aos indígenas e aos próprios afro-descendentes.

A vitimização de conceitos expostos aqui, parte da inicialização de outras definições pré-estabelecidas e interligadas muitas vezes de forma forçada em realidades desconexas, como é o caso do uso de idiomas africanos e indígenas em nosso dia-a-dia, o sincretismo de deuses africanos, com figuras católicas, expressões como Laia, Loiolo, e varias outras são faladas cotidianamente por nós e passam despercebidas sobre suas origens, deixando o sagrado se misturar com o profano.

Os povos indígenas, atualmente se encontram em situação de conquistas progressivas e luta intelectual da posse de poderes anteriormente desconhecidos por eles, tais lutas causam situações novas e que fogem do imaginário desses povos, principalmente porque os mesmos não compartilham do mesmo estágio de contato, mesma área geográfica, entre vários outros fatores que podemos colocar como se fossem níveis de relações diferenciados e específicos.

Dessa forma, em nosso achismo relevante, devemos expor que, mudanças culturais, mudanças geográficas, musicais e mesmo estruturais não significam que estamos perdendo nossa cultura, mais sim que estamos transformando a mesma, o tempo passa e isso acontece normalmente, formando novas identidades e trazendo novas formas de relacionamento.

Fica então a mensagem para aquele que querem mudar algo ou alguém (da fraqueza a força), nada dessas ações são necessárias quando se trata de formas de cultura, e relações humanas, passamos a ser bípedes justamente por nossa diversidades de pensamento e escolhas, as quais vão desde mulheres, moradia, sexo, cor, língua, etc., etc., etc. e tal.

Nenhum comentário: