Em
uma conversa, durante o intervalo de uma reunião, onde a mesma era composta
pelos mais variados indivíduos, entre os quais religiosos, agnósticos,
católicos, evangélicos e ateus, os mesmos com variadas opiniões e conceitos
culturais, surgiu à seguinte colocação: seria viável a tentativa de modificação, mudanças das letras das músicas usadas nas
apresentações de capoeira no município de Grajaú?
A
justificativa de mudança de tais habitus (levemos em consideração
aqui o conceito de Bourdieu), foi colocada de forma que o Sagrado e o Profano
estivessem em oposto e sobreposição entre o bem e o mal, algo sublime, como a
luta entre Deus e o Diabo.
Às
vezes esquecemos que a religião toma uma forma de emaranhado, perpassando limites e subjugando a Cultura (Roque,
2000), formando culturas das mais variadas possíveis, como ocorre no sincretismo
existente no Brasil, catalisador das diferentes etnias e raças existentes em
nosso país.
O
Brasil tem mais de 400 anos do que chamaremos aqui de caldo cultural, os mesmos nasceram de resistências das mais
variadas possíveis; desde luta armada até as diferentes formas de fuga,
culinária e idiomas que tomaram rumos igualmente diferentes e ajudaram a
transformar nosso país em uma Nação sem Estado e Estado sem Nação (Desculpem por não me lembrar de quem é essa
definição).
Logo,
durante a discussão, percebi que os interlocutores não estavam se atentando
para algo primordial na estrutura da discussão: o respeito ao outro e suas
diferenças e especificidades. Se estivéssemos em países como EUA e mesmo França
ou Inglaterra, a violação desse direito seria atacada de forma franca e forte,
como um contra preconceito ou mesmo um racismo as aversas.
Tocqueville
(1851), em seus estudos e viagens aos Estados Unidos da America, verificou movimentos
sociais diversificados os quais contam a gêneses de tais direitos, como os
mesmos nasceram e foram introjetados nas mentes norte-americanas, marcando
juntamente com esses conceitos, definições de inviolabilidade do direito a
individualidade, corpo e residência.
Em
nosso país tais direitos são o que chamaríamos de mais abrangentes e a questão
da inviolabilidade dos direitos e deveres individuais e coletivos, tratado em
nosso Art. 05, deixa a perceber que ao mesmo tempo e momento que temos direitos
assegurados, podemos expor nossas sensações às vezes até sem respeitar ao
outro, esquecendo o inciso II, onde fala ninguém
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da
lei ; ou mesmo o inciso IV onde também réplica nossas questão
colocando o seguinte é livre a
manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato ;
Lendo
todas essas questões nos colocamos a pensar e mesmo a ter a certeza de que, sem
saber, somos influenciado intimamente e majestosamente por leis que estão sendo
enraizadas em nossos imaginários, vidas, costumes e cultura.
Nossa
cultura de costumes, e de manifestações são algo determinante no momento de formamos
o que somos, e aqui nos referimos a negros, índios, ‘brancos’, tomemos
emprestado Darcy Ribeiro em seu livro e o Povo
Brasileiro, e como tais conceitos são importantes para formação de nossa
identidade e nossa cultura mista e misturada.
Mesmo
em seu vídeo sobre determinado assunto (o qual tem o mesmo nome – O Povo
Brasileiro), Ribeiro mitifica e desmitifica temas e tabus anteriormente
assistidos por nossa nação de forma apática, e que somente depois da
popularização das informações houve o que mais temíamos, o sucateamento desses conceitos e com esses sucateamentos, alguns
agentes saíram prejudicados, com o aumento e transformações de preconceitos e
prenoções há séculos enraizados, nesse caso uma das vitimas foi o conceito de
cultura frente aos indígenas e aos próprios afro-descendentes.
A
vitimização de conceitos expostos aqui, parte da inicialização de outras
definições pré-estabelecidas e interligadas muitas vezes de forma forçada em
realidades desconexas, como é o caso do uso de idiomas africanos e indígenas em
nosso dia-a-dia, o sincretismo de deuses
africanos, com figuras católicas, expressões como Laia, Loiolo, e varias outras são faladas cotidianamente por nós e
passam despercebidas sobre suas origens, deixando o sagrado se misturar com o profano.
Os
povos indígenas, atualmente se encontram em situação de conquistas progressivas
e luta intelectual da posse de poderes anteriormente desconhecidos por eles, tais
lutas causam situações novas e que fogem do imaginário desses povos,
principalmente porque os mesmos não compartilham do mesmo estágio de contato,
mesma área geográfica, entre vários outros fatores que podemos colocar como se
fossem níveis de relações diferenciados e específicos.
Dessa
forma, em nosso achismo relevante, devemos expor que, mudanças culturais,
mudanças geográficas, musicais e mesmo estruturais não significam que estamos
perdendo nossa cultura, mais sim que estamos transformando a mesma, o
tempo passa e isso acontece normalmente, formando novas identidades e trazendo
novas formas de relacionamento.
Fica
então a mensagem para aquele que querem mudar algo ou alguém (da fraqueza a
força), nada dessas ações são necessárias quando se trata de formas de cultura,
e relações humanas, passamos a ser bípedes justamente por nossa diversidades de
pensamento e escolhas, as quais vão desde mulheres, moradia, sexo, cor, língua,
etc., etc., etc. e tal.
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