sábado, 30 de maio de 2009

Estereótipo x Identidade: Uma constante Guerra para os povos indígenas do Estado do Maranhão.





Atualmente moro entre a cidade de São Luis-MA, Tuntum, Barra do Corda e logo, logo também na cidade de Grajaú. Como não tenho transporte próprio, vivo em ônibus de linha, entre essas cidades e como dizia nosso amigo Edward Norton no filme “Clube da Luta”, sempre estamos arranjando “amigos descartáveis”, onde conversamos de tudo, desde política, passando por religião e chegando as questões de profissão tanto minha, como de meu “amigo descartável”.
Quando falamos em profissão, surgem varias perguntas a respeito da minha, entre elas estão: como os índios vivem? Eles ainda andam nu?, as ocas deles são do jeito das de índio mesmo? Depois de feitas tais questionamentos, sempre procuro relatar que a cultura não acaba, mas sim, se transforma, está em constante mutação, e que ser índio não que dizer que tenham que fazer aquele “barulhinho” que a Xuxa fazia em sua musica de homenagem aos índios norte-americanos.
Na maioria das vezes quando a conversa acaba, “meus amigos descartáveis” ficam com sorriso de Monalisa, e sinto que quase não me fiz entender, mesmo assim, nunca desisto. Em uma de minhas viagens conversei com uma pessoa que me chamou bastante atenção, Ela me perguntou, quantas “etnias” haviam em Barra do Corda, e que estava fazendo aquela pergunta porque sempre via índios no INCRA, na Altamira e Piquizinho!.
Surpreendi-me naquele dia, pensei que aquele amigo descartáveis iria generalizar falando em apenas duas etnias e que os “índios de Barra do Corda não eram mais índios porque andavam de carro e moto e muitos deles moram nas cidades!”, é vivendo e se surpreendendo!.
Naquele momento me empolguei com a conversa, comecei a falar como um “lunático” e de cara relatei logo que em Barra do Corda convivem quatro etnias: Ramkokamekrá Canela, Apaniekrá Canela, Krepumkateye Timbira e Guajajara-Tentehara. Falei das diferenças entre elas, quais as línguas que falam (Jê e Tupi), costumes, cultura, economia, organização social e vários outros temas; foram seis horas de conversa, de São Luis a Barra do Corda.
Relatar a meu “amigo descartável” que há quatro etnias em Barra do Corda foi demais para ela, considerando que em seus conceitos baseados no senso comum, duas já eram demais: Guajajara e Kanela. Destaquei a ela que corte de cabelo, pinturas corporais e vários outros adornos e “acessórios” são questões irrelevantes frente ao sentimento de pertencimento de uma comunidade referente a um povo, que o Ser Índio vai mais além do que morar em “ocas”, fazer aquele “barulhinho da Xuxa” e andar nu, principalmente quando tentamos entender Ramkokamekrá e Apaniekrá (ambos chamados pelos não-índios de Kanelas).
Há uma confusão entre Estereótipo e Identidade em varias cidades do Estado do Maranhão, frente aos povos indígenas. As pessoas não respeitam a identidade desses povos porque querem que “Eles” se comportem de forma especifica idealizada pelo “senso comum”, se vistam (ou não) de forma exótica e especifica que Eles estejam estagnados no Tempo, que parem em suas buscas e questões.
De todos os meus “amigos descartáveis” Ela, foi a que menos fez Sorriso de Monalisa, e senti que ela me entendeu, mesmo que da sua forma. Assim, sempre quando estamos discutindo sobre “índios” seja com quem for, procuro sempre destacar que uma coisa é o senso comum esteriotipado, outra coisa é como cada um se vê e se sente frente as sociedades em que estão em contato.
Se você perguntar a um Ramkokamekrá Canela, quem são os verdadeiros índios do Brasil, ele responderá que são Eles e que os outros “não são índios verdadeiros!”, desta forma, podemos perceber que todas as sociedades são altamente etnocêntricas, inclusive as populações indígenas. Para melhor ser compreendido, poderíamos nos perguntar, por exemplo, quantos asiáticos acreditam ou já ouviram falar em Catolicismo ou Protestantismo? Teríamos uma surpresa com as respostas, mas para nós elas são a verdade.
No estado do Maranhão grande parte de sua população é indígena, muitas dessas populações vivendo como se fossem não-índios, reivindicando seus direitos e tentando serem reconhecidos como “indígenas”, sofrendo com o preconceito tanto dos não-índios, como também dos próprios “índios”.
Desta forma, para iniciarmos uma mudança, deveríamos saber definitivamente pelo menos um pouco de dicionário, saber que há diferenças entre Identidade e Estereótipos, ou mesmo fenótipos, chegando até em destacarmos a relação entre cultura e identidade para que possamos respeitar e conhecer melhor as sociedades indígenas como um todo.

Nenhum comentário: