terça-feira, 26 de maio de 2009

Registro Indígena Especifico e diferenciado


Estive entre os Canelas em diferentes momentos de suas longas histórias e estórias com o Cupê, momentos incríveis como por exemplo, a primeira vez que as luzes dos postes foram ligadas na Aldeia Escalvado, a morte de lideranças importantes, mudança dos Lideres Anciões (Há qual só ocorre entre os Ramkokamekrá-Canelas a cada 20 anos), aplicabilidade de suas lógicas diplomaticas dignas de aplausos e também em momentos singulares como na Aldeia Porquinhos quando presenciei uma discussão entre uma MÃE E AVÓ chateada porque não tinha o direito de registrar seu neto recém-nascido com o nome dos dois PAIS que o garotinho tinha.
Devemos saber que entre os índios Timbira do Maranhão e dos outros estados do Brasil, eles não acreditam que apenas um (01) homem consiga gerar uma criança, também que essa criança não é gerada em apenas um ato, mas sim em vários, durante os sete primeiros meses de gravidez.
As técnicas em enfermagem conversavam, explicavam que não havia lugar no registro para tais nomes, mas apenas para um (01) PAI! A senhora insistia, queria falar com todos e explicar que sua preocupação estava baseada em questões também de TABUS ALIMENTARES durante e pós gravidez para ambos e para todos os PAIS DA CRIANÇA, todos tinham que tomar cuidados específicos a respeito de alimentação e bebidas, "garapas" e outros remédios recomendados pelos Cay (Pajé) da aldeia.
Naquele momento a senhora que explicava a Técnica em Enfermagem o que ele já sabia, mais que não podia fazer nada, se virou para mim e pediu que eu interviesse, expliquei a ela que para aquilo acontecer, as leis do Cupê deveriam mudar e isso exigia tempo, ela ficou mais calma e decidiu esperar, a decepção estava estampada em seu rosto e juntamente com a decepção o medo da quebra do resguardo por parte dos Pais que poderiam estar cobrando a paternidade do garotinho.
Aquele momento nos colocou em uma situação bastante especifica, incomoda e porque não chamar de GARFE ANTROPOLÓGICA? Acho que se pareceu mais com uma garfe mesmo, além disso, tinha ainda que manter um distanciamento para não atrapalhar o andamento da situação e a intromissão em nossa pesquisa.
Passei algum tempo pensando em tal situação, analisando como seria de grande valia algo como documentos especificos e diferenciados para os povos indigenas, ações que respeitassem a cultura e os costumes desses povos, não sei se é pedir ou sonhar demais, sei apenas que a cultura e o respeito nesse caso seriam de grande estima para eles e seus parentes de todo o Brasil.


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