domingo, 26 de dezembro de 2010

Muita terra para Pouco índio


A Revista Veja (ano 43 ; num. 49; 8 de dezembro de 2010) mais uma vez tentou explicitar uma situação, referente aos povos indígenas, mais acabou sendo pouco parcial em relação a situação que tentou expor.
Primeiramente, devemos concordar que uma pequena reportagem de pouco mais de três a quatro folhas, não resume o que meses de estudos e pesquisas bibliográficas e de campo, pesquisas arqueológicas e ambientais tenta fazer para ser realmente imparcial.
Quando é publicado ou solicitado um estudo Antropológico sobre uma determinada área em questão, ou mesmo um levantamento territorial, com todas as suas peculiaridades e exigências dentro de parâmetros legais e leis embasadas na Constituição de 1988, se espera, e se da fé que o mesmo, será realizado levando-se em conta as exigências de um edital que se encontra dentro de leis nacionais instituídas.
Dessa forma, percebemos que, novamente, mais uma vez e por mais outra, se coloca que, é muita terra para pouco índio, essa é uma questão que permeia o ouvido de populações inteiras e que essas populações vivem em ambientes de conflitos e confrontos, quase sempre com mais de 200 anos de idade.
Amarante, no Maranhão, por exemplo, é uma dessas situações. Um período prolongado de contatos interétnicos e relações socioeconômicas entre índios e não-índios, comercio, e outras questões do município giram em torno dos indígenas, assim também é em Barra do Corda, Grajaú, Formosa da Serra Negra e Fernando Falcão, claro que, em maiores e menores intensidades.
O que mais espanta nessas reportagens é o jargão: “muita terra para pouco índio”, como se as pessoas que usufruem das terras, seja de domínio da União ou terras particulares cultivassem 100% de suas terras, como se não existisse áreas de reserva, ou mesmo se 100% das terras foram produtivas.
Podemos citar aqui o caso dos Ramkokamekrá-Canela, com a TI Kanela, com seus menos de 50% de suas terras cultiváveis, por as mesmas serem improdutivas. Perguntamo-nos, o que esses índios fazem com o restante da terra? Os mesmos respondem, “andamos, perambulamos, caçamos, mudamos de um lugar para outro quando o lugar que estamos fica doente, poluído ou mesmo sem lugar para roça, deixamos ali descansar”. A necessidade de terra, não é apenas para o cultivo, mais para sobrevivência desses povos em sua forma mais completa, desde o cultivo, a moradia, sobrevivência e reprodução desses povos como comunidades autônomas, como é assegurado na Constituinte de 1988.
Mais uma coisa seria o pedido dos próprios indígenas em negarem as correções das atuais situações de suas TI (s), claro que os indígenas negam, o dialogo é o seguinte: “E aí cumpadre, vocês querem aumentar a terra de vocês lá onde a gente mora?” O indígena responde: “Não cumpadre, claro que não. O senhor pode me vender um quilo de açúcar?”, querem saber o contexto, o indígena compra, se relaciona e depende também em vários aspectos dessas populações não-indígenas e dessa forma tem medo da represaria frente a seus filhos, netos e parentes quando estão na cidade, à tensão existe e não pode ser negada.
A negação, por exemplo, no caso dos Ramkokamekrá-Canela, se da porque desde o Movimento Messiânico de 1963, os “Canelas do Ponto” têm tentado de todas as formas evitar conflitos e confronto com as populações sertanejas que se relacionam com os mesmos, naquela região, mesmo sendo os “Canelas do Ponto” uma população de quase dois mil indivíduos e estarem restritos a um território minúsculo para sua sobrevivência digna como população autônoma.
Por não terem como sobreviver em “terra que só tem areia”, passam a viver nas cidades as margens da sociedade e sobrecarregam as políticas públicas que eram apenas para auxiliá-los na resolução de suas necessidades e problemas. 
Acho que agora, para completar o circulo de pré-Conceitos e Prenoções sobre as populações indígenas do Maranhão e de todo o Brasil, falta apenas o pessoal da Revista Veja vomitar mais um jargão da região maranhense sobre “índios” e dizer “índios? todo índio calça número 40!”.

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